segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Rito de Passagem

O texto e as fotos abaixo, fazem parte do meu processo de criação para o espetáculo Rit.U realizado pela Taanteatro Companhia no projeto NUTAAN 2010 comtemplado pela Lei de Fomento a Dança de Estado de SP
Fotos: Wolfgang Pannek, Valter Felipe e Renô

Em minhas veias correm o sangue dos meus antepassados...
Quantas vidas tive?
Deito-me em suas raizes e encontro-me com as minhas, a terra me acolhe, e em seus braços sou embalada num sono leve; o corpo relaxa mas a mente teima em continuar desperta; ouço passos sobre as folhas secas, é hora de acordar!
Já em pé, base plantada no chão como as grandes raizes da árvore ancestral, sinto o calor de um fino raio de sol que atravessa as folhas e ilumina o meu rosto.
Zerar...
A serpente adormecida desperta envolvendo o meu corpo com sua vibração, mergulho em ondas de seiva e caminho lentamente sentindo a densidade do ar, medo e apreensão sinalizam o que esta por vir.
Danço minhas lembranças soturnas, sou lançada ao chão pelo peso insusentável das palavras, o abraço apertado e asfixiante me traz a consciência da aproximação da morte, ouço o som de um sino enquanto o corpo lento da lesma é dissolvido pelo sal das memórias.
A poeira salgada entra pelos pelos poros entupindo todos os buracos. Já não vejo e não ouço, falta saliva pra concluir o grito, o corpo se debate, luta contra a morte, estou seca , por dentro e por fora - é preciso morrer!
O corpo físico vivência sua morte simbólica e é sustentado pelo chão, enquanto o corpo de sensações dança no espaço a plenitude do vazio. O limite do eu é o univeso.
Ao longe, um canto doce anuncia a passagem da morte para a vida. O pó da raiz branca que alimentava os índios é peneirado sobre a pele, o som do tambor atravessa a carne reavivando as batidas do coração, meu corpo -(em) branco- se movimenta lentamente em contato com a vida.
Respiro.
Renasço.
Revivo.
Danço a força que me ergue.
Corpo ereto, olhos, bocas, sorrisos; a cantoria não cessa e embala meus ossos em movimentos contínuos, tenho fome de vida, mastigo pedaços de vísceras ao mesmo tempo que chupo as tetas da vaca profana . A boca vermelha sangra de vontade , mostra os dentes sujos e sorri para a menina morta.
A deusa obscena rasga a carne e borda na alma as letras escolhidas para compor o nome, costura em vermelho o tecido branco que me liga ao o umbigo do mundo, riso e gozo.
Tenho que parir a mim mesma, a moira sedenta segura em sua mão a faca afiada, sou forte para suportar a dor de ser expelida, estou pronta para nascer- abandonar o transitório e revelar o verdadeiro.
Assumo o meu nome, nome de poder, danço sua pureza e delicadeza no grau máximo de sua força, dou passagem à mulher que chega de peito aberto para receber a potência da vida e buscar o desconhecido.
O nome de batismo é celebrado em roda até que as pernas possam correr em direção a realidade, corro segurando a mão paterna, observo os carros que passam na rua barulhenta, sinto que o corpo do outro é a extensão do meu próprio corpo, sou parte do todo ... Danço a vida que se renova em mim a cada repiração.












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